O objetivo desse post é ensinar ao público leigo como saber se o seu médico é médico de verdade. E também aumentar a consciência dos colegas médicos em disponibilizar nos canais corretos informações sobre sua formação.
Esse é um post que eu sempre tive vontade de escrever, mas por ser um assunto um pouco polêmico, acabei deixando de lado por um tempo…
No entanto, após a divulgação de notícias sobre falsos médicos atuando no Brasil (como por exemplo em São Paulo, em Jundiaí e em Pernambuco) e o fato de pessoas conhecidas minhas já terem passado por isso (terem sido enganadas por falsos profissionais), decidi escrever.
Infelizmente, nós brasileiros não temos por hábito pesquisar o histórico dos profissionais que nos atendem. E não falo só de médicos, falo também de todos os profissionais que prestam serviços: dentistas, psicólogos, engenheiros, advogados, pedreiros… Até mesmo de empresas.
É muito comum pedirmos “indicação” para amigos e conhecidos, mas dificilmente vamos atrás de saber a reputação de uma empresa, mesmo tendo ferramentas fáceis como o site Reclame Aqui ou o próprio site do Procon, antes de fazermos uma compra ou contratarmos um serviço.
Mas acredito que no caso dos médicos, a gravidade é um pouco maior pois muitas vezes a vida e a integridade física de alguém pode ser colocada em risco.
Para se tornar um médico, é preciso fazer uma Faculdade de Medicina, em uma Faculdade ou Universidade devidamente credenciada pelo MEC. Esse curso de graduação tem duração de 6 anos e depois dele, o profissional tem o direito de se inscrever no Conselho Regional de Medicina (CRM) do seu Estado e, somente à partir daí, exercer a Medicina como profissão.
Isso deixa claro que TODO MÉDICO tem que estar inscrito no CRM e ter seu número de inscrição para poder exercer a Medicina. E um médico inscrito por exemplo no CRM de São Paulo só pode exercer a Medicina no Estado de São Paulo. Se, por acaso, ele tiver um outro emprego em outro Estado (situação comum que acontece com profissionais que vivem em cidades fronteira), ele deve estar inscrito nos 2 Estados, ter 2 números de CRM e ter a inscrição ativa nesses 2 Estados.
A primeira coisa que deveríamos fazer ao procurar um médico é saber se ele está inscrito no CRM.
Usando novamente o exemplo do CRM de São Paulo (o CREMESP), se você entrar na página vai ter um local de busca onde aparecem todos os médicos cadastrados. E isso é válido para todos os CRMs, de todos os estados do Brasil.
Se o seu médico não estiver inscrito no CRM do seu Estado, isto deve ser um sinal de alerta e você deve procurar o CRM para uma averiguação.
(observação importante: alguns médicos do programa Mais Médicos, que não passaram por revalidação do diploma, não tem número de CRM mas estão inscritos no Ministério da Saúde. Esse é um assunto polêmico e não é o objetivo desse post).
Um segundo passo é a questão da Especialidade Médica. Para um médico ser considerado especialista, ele deve ter feito Residência Médica ou uma Pós-Graduação Lato Sensu (também credenciada pelo MEC) naquela área. Muitas Sociedades de Especialidade também aplicam provas para obtenção do Título de Especialista. Com o Título em mãos (ou o certificado da Residência), o médico deve registrar esta especialidade no CRM. No entanto esse registro não é obrigatório.
Quando a especialidade tiver sido registrada no CRM, a mesma aparece junto à inscrição do médico, no site do CRM. Nos casos onde a especialidade não foi registrada, pode-se tentar encontrar seu médico nos sites das devidas sociedades de especialidade.
Usando como exemplo a SBEM (Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia), existem áreas no site para busca de médicos (ver foto abaixo). (Observação importante: somente médicos que estão em dia com a anuidade aparecem na página; se o seu médico é especialista mas não pagou a anuidade, ele não aparecerá nas ferramentas de busca).
Uma outra ferramenta interessante é a Plataforma Lattes. Todos os profissionais (e alunos de graduação), de qualquer área (não só da área da saúde), que trabalham com pesquisa ou fizeram/fazem Pós-Graduação Stricto Sensu (Mestrado ou Doutorado) devem ter seu currículo acadêmico registrado nesta plataforma do CNPq. Ao buscar o currículo pelo nome, você também estará vendo toda a vida acadêmica deste profissional, tanto a formação quanto a produção acadêmica (artigos e livros publicados, presença em congressos, cursos, etc).
E por último, existem também outras plataformas (como LinkedIn e até mesmo o próprio Google) onde é possível encontrar o currículo do profissional ou até mesmo o site pessoal daquele profissional (hoje em dia, muitos médicos tem seu próprio site ou site da sua clínica).
Em resumo:
1) Para saber se seu médico é mesmo médico, visite a página do CRM do seu Estado e faça uma busca pelo nome ou pelo número.
2) Caso a especialidade não esteja registrada no CRM, faça a busca pelo site da especialidade.
3) Veja se seu médico tem currículo acadêmico (currículo Lattes) ou currículo eletrônico (LinkedIn).
Falei muito aqui sobre os médicos por ser a minha área mas acredito muito que, enquanto cidadãos conscientes, deveríamos ter essa postura para todos os serviços que fazem parte do nosso dia-a-dia. Com isso, além de fazermos escolhas mais conscientes dos profissionais aos quais confiamos nossa saúde (ou nossos casos jurídicos, ou a construção da nossa casa, etc) também estaremos ajudando a fiscalizar e evitar situações como as citadas no início do post.
Um grande beijo a todos e muita saúde!
(Este post é de minha autoria e foi originalmente publicado no blog “um brinde á saúde” em 23 de abril de 2015)