Especial Diabetes: adesão ao tratamento é o segredo do sucesso! Entrevista com a Dra. Talita Trevisan
Ontem, no nosso especial, conversamos sobre o tratamento medicamentoso do Diabetes mellitus. Mas de nada adianta ter um tratamento bem planejado e com medicamentos modernos e tecnológicos se o paciente não consegue seguir a prescrição.
Este é um dos maiores desafios que temos ao tratar pacientes portadores de uma doença crônica e é tema de muitos debates entre os médicos endocrinologistas.
A dra. Talita Trevisan, Médica Endocrinologista formada pela Unicamp e atuante em Itajaí (SC), criou um perfil no instagram chamado “Diabetes Tipo: nada é impossível”, para tentar motivar os pacientes a se manterem firmes no seu tratamento. Este trabalho lindo me motivou a entrevistá-la para também dar estas dicas para vocês, leitores do blog.
Segue a entrevista:
1) Dra. Talita, você tem um perfil no instagram (@diabetestiponadaeimpossivel) que reforça a relação médico-paciente como uma das grandes ferramentas para a melhora da adesão ao tratamento. De onde surgiu esta ideia?
Dra. Talita Trevisan: A ideia do @diabetestiponadaeimpossivel veio do fato de eu sempre verbalizar aos pacientes que o bom entendimento do diagnóstico diabetes, juntamente ao tratamento com medicações adequadas(1), atividade física rotineira(2) e alimentação saudável(3) nos traz a possibilidade de realizar muitas coisas, que até então, eles julgavam impossíveis.
E, em uma determinada consulta, um jovem, em torno dos 30 anos de idade, com diagnóstico de diabetes tipo 1 há 10 anos, me perguntou: “Então, meu diabetes é do tipo nada é impossível?”. Confesso que me emocionei com essa pergunta e, daí, começou a nossa história!
2) Quanto que a má adesão ao tratamento pode impactar no controle e risco de complicações do diabetes?
Dra. Talita Trevisan: É difícil resumirmos em um único número o impacto da má adesão ao tratamento. É certo que a má adesão traz complicações, que podem ser diversas, desde cardíacas, renais, oculares e até em extremidades. Sem contar o fato de que, comumente, o diabetes vem acompanhado de outros diagnósticos, como obesidade, colesterol elevado, hipertensão arterial.
Acredito que o grande ponto a ser discutido é que quem tem diabetes não estará necessariamente destinado às complicações acima listadas. Diabetes não significa amputação ou perda de visão. As complicações do diabetes são resultado de pelo menos 10 anos de glicemias elevadas.
Elas não acontecem no dia em que você recebe o diagnóstico…e se porventura, essa infelicidade aconteceu com você, ou com um de seus entes queridos, você ou ele, certamente, já tinha diabetes há pelo menos 10 anos, só não sabia disso.
Assim, trabalhamos para a melhora do controle glicêmico hoje e redução, a longo prazo, do risco de aparecimento das complicações. Mesmo que o paciente já tenha alguma alteração da função do rim, por exemplo, nosso objetivo é fazer essa alteração estacionar e, impedir a evolução ou aparecimento das demais.
As pessoas são imediatistas, pensam no controle glicêmico ruim hoje. A cada conversa que tenho com meu paciente, estamos planejando os próximos 20-30 anos de vida, não só a próxima semana.
3) Além de uma boa comunicação e um bom relacionamento entre o paciente e a equipe de saúde que o assiste, que outras ferramentas podem ser usadas pelos profissionais para melhorar a adesão?
Dra. Talita Trevisan: SINCERIDADE. Preciso que meu paciente me fale que não gosta de caminhar, ou que bebe refrigerante todo dia, ou que tem muito medo de ter que usar insulina… Só com o entendimento da realidade do paciente conseguiremos melhorar a adesão ao tratamento.
A grande questão das doenças crônicas é que elas têm um característica multidimensional – são vários medicamentos, talvez até injetáveis, para o resto da vida, junto com discussão em melhora de hábitos alimentares e ainda atividade física. A tarefá é árdua… Além disso, o medo de aplicar insulina pode ser maior do que a garra de correr uma maratona…
E, é dentro dessas pequenas características, de cada paciente, que tentamos individualizar o tratamento, a fim de buscar melhores resultados. Quanto mais conhecermos nosso paciente, quanto mais nossa relação for sincera, mais isso impactará na melhor adesão à terapêutica em medicamentos e estilo de vida.
Ah, e sempre, nós temos que ser o exemplo. Não adianta cobrar a mudança e não fazer parte dela.
4) E em relação aos pacientes, que dicas que você daria pra que os mesmos consigam tomar todos os comprimidos ou aplicar todas as injeções, sem falhar?
Dra. Talita Trevisan: Acredito que temos que nos colocar no lugar do paciente e entender a rotina dele. As medicações devem ser usadas de maneira que diminuam as chances do esquecimento.
Existem estudos que mostram que o risco de um paciente tomar uma medicação por dia sem esquecê-la é de quase 94% (bastante otimista ao meu ver). Já, o risco de não esquecer mais de 2 medicamentos por dia é pouco menos de 60%. Imagina se o remédio para controle glicêmico necessita ser tomado 3 vezes por dia…tenho certeza que o comprimido do horário do almoço, será esquecido em pelo menos metade do mês.
Assim, por que não tentar encontrar uma medicação semelhante que faça o efeito com o menor número possível de comprimidos ou aplicações por dia? E, se, apesar dos esforços, não for possível diminuir a frequência desses horários, o esclarecimento ao paciente do porquê de tantas medicações e tantos horários faz-se muito importante. O paciente bom conhecedor de seu diagnóstico torna-se muito mais participativo do tratamento.
5) Com todo o avanço tecnológico atualmente existem muitos aplicativos de celular que ajudam nesta tarefa, não é mesmo? Quais você indica ou quais tem mais experiência?
Dra. Talita Trevisan: Sim, os aplicativos nos ajudam muito. Desde os mais simples que contam os passos que damos até os mais sofisticados que conseguem adivinhar o quanto de carboidratos existe em uma fotografia de um prato de comida.
Eu tenho pacientes de todas as idades, inclusive adolescentes, que ainda preferem anotar as suas glicemias em tabelas e cadernos. Já outros, gostam de aplicativos.
Meu aplicativo preferido é o FATSECRET, que serve para ver o conteúdo nutricional dos alimentos, faz diários alimentares do paciente, além de avisar que o paciente deve tomar água e se pesar (entre outras coisas).
Com relação a aplicativos de contagem de carboidrato, gosto muito do Minsulin, Glicocare e Gliconline. E para apenas fazer o diário glicêmico e ter os medicamentos catalogados e lembrados, certamente o Mysugar é fantástico. Há aqueles que ainda preferem o bom e velho despertador pra lembrar da tomada das medicações.
A grande questão é que aplicativos cansam e a partir do momento que o paciente está participando ativamente do tratamento, os aplicativos serão usados de forma mais esporádica.
6) Dra. Talita, muito obrigada pela sua participação! Gostaria de deixar uma dica ou um recado para os leitores do blog?
Dra. Talita Trevisan: Ter diabetes não é fácil. No entanto, quanto mais se tentar entender do diagnóstico menos difícil será enfrentá-lo. Nunca é tarde demais pra você retomar seu tratamento! 2017 está aí! Trace um novo recomeço e comece hoje!
Minha querida Dra. Talita, muitíssimo obrigada pela sua participação!
Suas palavras foram muito emocionantes para todos nós!
Espero que tenham gostado e amanhã tem mais!!!!
Beijo enorme a todos!
05/12/2016 @ 00:26
Muito boa a entrevista! Conheço várias pessoas diabéticas que não se cuidam e brincam com doença tão séria.Informação e cuidado sempre é a melhor maneira de viver bem sendo diabético. Bjs M