Vitamina D em Crianças: novo consenso do Departamento de Endocrinologia da Sociedade Brasileira de Pediatria
No começo deste mês, o Departamento de Endocrinologia da Sociedade Brasileira de Pediatria publicou uma atualização do consenso sobre a questão da Deficiência de Vitamina D (também chamada HIPOVITAMINOSE D) na faixa etária pediátrica.
O texto é voltado para profissionais da saúde, mas chama atenção para dois pontos muito importantes: a grande variabilidade nos valores de referência laboratoriais e o fato do aumento da disponibilidade desta dosagem aliado à falta de consenso no que é considerado “normal” para a população ter gerado um grande número de diagnósticos de deficiência desta vitamina.
Em relação à variabilidade nos valores de referência, anteriormente aqui no blog já havíamos comentado sobre este ponto num post anterior (onde falamos sobre TSH, glicemia e colesterol).
No caso da Vitamina D, essa variabilidade é ainda maior pois existem vários métodos laboratoriais e cada um deles tem um valor de referência, além de haver uma enorme variabilidade individual que deve ser levada em consideração, como por exemplo: o nível de vitamina D de pessoas que moram em países tropicais é maior do que aqueles que moram mais próximos aos polos ou em cidades cuja poluição atmosférica é grande, mas isso não significa que estes últimos terão deficiência. Porém, ao se produzir uma curva de “valor de referência”, se forem levadas em consideração aqueles altamente expostos ao sol como referência, os não expostos estarão sempre em ‘desvantagem’.
Para deixar mais claro: se é considerado normal um valor de vitamina D entre 30 e 100, os que moram em Roraima, por exemplo, terão vitamina D próximo de 100 enquanto os que moram no Rio Grande do Sul terão próximo de 30 e ainda sim os dois grupos estarão dentro do normal.
Outros fatores também podem levar à variabilidade na referência, por exemplo, a gordura corporal (obesos tem maior risco de o exame laboratorial não refletir a quantidade de vitamina D no corpo, uma vez que esta se armazena na gordura); quantidade de proteínas do sangue, uso de medicamentos, etc.
No caso da população pediátrica, este valor normal é menor (é considerado normal em torno de 20, enquanto nos adultos, normal é acima de 30); no entanto, existem trabalhos mostrando que valores até 12 podem ser considerados normais dependendo da idade, da metodologia laboratorial e de outros fatores.
Com isso, a grande crítica é que ao se colcocar um valor de referência elevado como considerado “normal”, o número de pessoas diagnosticadas como “CARÊNCIA” ou deficiência de vitamina D aumenta, aumentando a necessidade de reposição e, com isso, a venda de medicamentos.
Essa reflexão é importante pois o consenso coloca o grupo de vegetarianos e veganos como população de risco para esta carência, uma vez que as principais fontes alimentares de vitamina D são de origem animal. No entanto, apesar desta população ter sim que ser monitorizada, não significa que ser vegetariano ou vegano é sinônimo de carência de vitamina D (até porque, a maior fonte de vitamina D está na exposição solar e esta independe do tipo de alimentação do indivíduo). Ou seja, nem todo vegetariano necessitará da reposição.
Como conclusão, é importantíssimo que as sociedades médicas se posicionem para informar aos profissionais e à população sobre questões que envolvem o avanço da medicina e das técnicas laboratoriais. Quero parabenizar o Departamento de Endocrinologia da Sociedade Brasileira de Pediatria pela iniciativa e reafirmar que o conhecimento evolui constantemente e temos que estarmos atentos às novidades, mas sem nunca deixar de colocar os pés no chão pois muitas vezes aquela “novidade bombástica” de hoje cai por terra rapidamente amanhã.
Um forte abraço a todos e nos vemos no ano que vem! Feliz Natal e um 2017 maravilhoso para todos!
(Queridos amigos: o blog vai estar em recesso nos próximos dias devido às festas de fim de ano mas voltaremos no ano que vem com muitas novidades! Forte abraço a todos!)
2017-01-16 @ 00:51:50
Muito bom saber sobre essa variação de valores sobre a vitamina D. Boa alimentação e sol diário com moderação fazem muito bem a adultos e crianças. Vamos seguir! Bjs M