Hoje vamos falar sobre uma complicação bastante frequente porém pouco conhecida do Diabetes Mellitus: a Disfunção Sexual. E para ajudar, convidei a Sexóloga Priscila Junqueira para conversar com a gente sobre o assunto!
Esta semana, abordamos um pouco as complicações crônicas do Diabetes (veja esse post aqui). Como vocês devem ter percebido (e também, como foi explicado no primeiro post da série), quando temos uma taxa alta de açúcar no sangue durante um longo período de tempo, existe um risco aumentado de inflamação e lesão dos vasos sanguíneos, predispondo à formação de placa nas artérias e ao grupo de doenças que chamamos “Doenças Cardiovasculares”.
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Artérias e veias do corpo: qual a diferença |
Entre as principais doenças cardiovasculares, temos: o Infarto do Coração, o Derrame (AVC), as úlceras de pé (podendo levar a amputações), entre outras. Essas são as chamadas complicações MACROvasculares (macro = grande, vascular = vasos), ou seja, complicações de grandes vasos.
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Grandes artérias do nosso corpo |
Este tipo de complicação, que afeta nossas artérias, pode ocorrer desde artérias maiores (como a da perna, do cérebro ou do coração) como artérias menores, como as que irrigam órgãos como rins, retina e mesmo as bem pequenas que irrigam as próprias artérias e nervos, levando às chamadas complicações MICROvasculares (de pequenos vasos).
Os órgãos do sistema reprodutor possuem uma intensa vascularização e inervação para seu correto funcionamento.
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Artérias do sistema reprodutor masculino (no geral) |
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Artérias do distema reprodutor feminino (em detalhes) |
O fenômeno da ereção masculina e do orgasmo feminino (que depende da ereção do clitóris) necessitam de artérias livres de placas e também de um sistema nervoso saudável para que ocorra o ato sexual de forma satisfatória.
Se houver lesão dos vasos e nervos, como ocorre no diabetes de longa data, tanto a saúde sexual masculina quanto a feminina são afetadas:
– Diretamente: pela lesão das artérias;
– Indiretamente: pela lesão nos nervos;
– Mais indiretamente ainda: pois pode haver também um maior risco de disfunção hormonal nesses pacientes, com redução dos níveis de hormônios masculinos (testosterona) e femininos (estrogênio) – vou falar mais sobre isso num próximo post.
No entanto, esta não é uma situação que ocorre da noite para o dia. Em geral, o adoecimento das artérias vai acontecendo lentamente ao longo dos anos e, qualquer sinal de doença arterial em algum lugar do corpo pode indicar doença em qualquer parte do corpo. Por isso, dizem que a Disfunção Erétil no homem “precede” o infarto em cerca de 2-3 anos, sendo assim um sinal de alerta para as doenças cardiovasculares.
Infelizmente, este “alerta” na mulher não é tão evidente. Por isso, todo paciente com Diabetes deve ser interrogado sobre a saúde sexual e outros sintomas relacionados. Muitas vezes, quando descoberto precocemente, não há necessidade de tratamento medicamentoso e basta um apoio multiprofissional para reverter o quadro.
Para conversar um pouco sobre isso, convidamos a Psicóloga e Sexóloga Priscila Junqueira, que já foi nossa entrevistada aqui no blog.
Segue a entrevista!
1) Olá Priscila! Muito obrigada por novamente participar aqui do blog! Um ponto importante no cuidado do paciente com diabetes são as disfunções sexuais, que podem inclusive aparecer logo no início do desenvolvimento das complicações da doença. Por isso é importantíssimo que o profissional de saúde inclua perguntas sobre saúde sexual na sua entrevista. Que dica você dá para os profissionais de saúde abordarem este tema?
Priscila Junqueira: Sim, o Diabetes torna-se um grande fator de risco para disfunções sexuais tanto em mulheres quanto homens.
Uma das principais queixas relatadas por homens com diabetes é a disfunção erétil (DE), que é a incapacidade recorrente de obter ou manter uma ereção peniana permitindo uma relação sexual satisfatória.
Nas mulheres, pode causar incontinência urinária, alterações nos músculos do assoalho pélvico que trazem dificuldades para o orgasmo.
Acredito que seja importante, o profissional de saúde já conhecer esse risco de disfunção sexual e falar para o paciente, como, por exemplo, “Senhor X, você sabe que a Diabetes pode causar dificuldade de ereção, dificuldades no orgasmo. Você tem apresentado?”
2) E também que dica você dá para os pacientes que podem já ter uma queixa de disfunção sexual mas se sentem constrangidos de contar ao médico?
Priscila Junqueira: Como falei anteriormente é importante o profissional introduzir o assunto, caso o paciente tenha vergonha ou não saiba que ocorre o sintoma.
Mas, para isso, o profissional precisa sentir-se a vontade para falar, também. Caso não consiga, já solicite um encaminhamento para uma sexóloga.
3) No caso dos homens, a disfunção sexual tem aparecimento mais evidente (com a disfunção erétil), no entanto, no caso das mulheres, pode ser bem mais sutil (a ausência da “ereção” do clitóris pode levar a dificuldade de orgasmo, mas isso pode não ser percebido pela mulher). Como a mulher poderia perceber que o que está ocorrendo é um problema de saúde e não apenas uma falta de desejo decorrente da idade?
Priscila Junqueira: Percebo que quando existe um problema de saúde orgânica, outros sintomas aparecem juntamente com a falta de desejo, como cansaço, excesso de peso, sedentarismo.
Sempre sugiro para minhas pacientes investigarem com um médico as causas orgânicas e também, a perceberem-se. A mulher que tem uma boa autopercepção do funcionamento do seu corpo, tem mais facilidade para identificar e diferenciar as causas de seus sintomas.
4) Em relação aos homens, muitos diabéticos que apresentam disfunção erétil também fazem uso de muitos medicamentos e nem sempre é indicado (e muitas vezes, é contra-indicado) o tratamento medicamentoso da disfunção erétil (o famoso “viagra”). O mesmo vale para mulheres, onde não temos medicamentos para tratar a disfunção sexual. Existem formas de melhorar a relação sexual sem recorrer a medicamentos?
Priscila Junqueira: Claro, hoje a terapia sexual tanto individual quanto de casal, são considerados tratamentos de primeira linha para DE (Disfunção Erétil). A psicoterapia no tratamento da DE configura-se como uma abordagem ampla ao casal, dirigindo-se não somente ao portador de DE.
Essa prática consiste em diversas intervenções psicológicas com o intuito de eliminar pensamentos ou mitos que afetam a relação conjugal, tendo como objetivo explorar aspectos como experiências sexuais prévias, ansiedade, entre outras. Aborda também temas pontuais e pessoais que possam interferir, como: distúrbios psiquiátricos, atividades profissionais, contexto familiar, educação sexual, autoestima baixa, entre outros.
5) E para finalizar, gostaria de deixar uma dica ou algum recado para os leitores do blog?
Priscila Junqueira: Busque conhecimento sobre sua condição de saúde, reflita sobre o que sente e pensa a respeito e não deixe de buscar ajuda profissional, pois com essa ajuda você poderéa retomar sua satisfação sexual e qualidade de vida.
Muito obrigada, Priscila, por novamente participar aqui do Blog! Sua participação é sempre importantíssima!
Espero que tenham gostado da entrevista!
Anônimo
02/12/2016 @ 00:27
Muito boa a abordagem sobre o tema. É difícil quem fala sobre o assunto que é um tabu para muitas pessoas. Parabéns! Bjs M
Emanuel Castro
03/02/2020 @ 11:49
Que dica ouro, muito bom, gostei, vou indicar para meus amigos…