Exercício em Jejum: Entrevista com Rogério Oliveira, Educador Físico
Depois do último post, na semana passada, sobre o Jejum Intermitente, conversei bastante com o meu professor da academia sobre um tema também bastante polêmico na área da Educação Física: o EXERCÍCIO EM JEJUM. Nosso bate papo foi tão legal que virou entrevista e ele vai contar tudo pra gente sobre isso!
Muita gente se preocupa com a realização de atividade física em jejum, com medo de “passar mal”. Principalmente aquelas pessoas que não conseguem tomar café da manhã e só tem o horário mais cedo para conseguir praticar eu exercício.
Essa questão sempre foi um tabu e nós, profissionais de saúde, desde sempre orientamos nossos pacientes a se alimentar antes do exercício.
No entanto, alguns pesquisadores na área da Educação física começaram a estudar os efeitos do exercício em jejum e os resultados geraram uma grande polêmica na mídia.
Por isso, convidei o Educador Físico Rogério Oliveira, pós-graduado em Fisiologia do exercício e treinamento de força (CREF 127065-G/SP) para contar pra gente tudo que a ciência tem falado a respeito deste tema!
[antes de começar a entrevista, gostaria de chamar a atenção para o seguinte: quando falamos em estudos de jejum intermitente e exercício em jejum, estamos falando de adultos saudáveis. Consequentemente, os resultados NÃO são aplicáveis a crianças, idosos, gestantes, diabéticos que usam insulina… Muito cuidado! Se o seu caso é algum desses, converse sempre com seu médico, nutricionista e educador físico antes de tentar qualquer mudança alimentar!!!!]
1.Professor Rogério, primeiramente obrigada por participar da entrevista aqui do Blog! Vamos começar com o básico: a vida inteira fomos orientados a nunca praticar exercícios em jejum. De onde saiu a idéia da prática de exercício em jejum?
Prof. Rogério Oliveira: A prática do jejum vem sendo realizada a milhares de anos, principalmente por religiões. Algumas destas, o indivíduo chega a ficar um mês se alimentando apenas no período noturno, porém sua realização se estendeu para a utilização da mesma dentro do ambiente da atividade física, com um propósito estético de diminuição do tecido adiposo (gordura) e de aumento do desempenho em atletas de endurance (atividade com característica aeróbio), por esse motivo aumentou a investigação na área científica sobre esse tema.
2. Qual seria o potencial benefício desta prática?
Prof. Rogério: A realização do Jejum auxilia na melhora de alguns parâmetros bioquímicos e fisiológicos relacionados a saúde e performance. Pensando nos parâmetros relacionados a saúde, essa prática auxilia: na resistência ao estresse, aumento da lipólise (oxidação de gordura), neurogênese (aumento da quantidade de neurônios) e produção de corpos cetônicos, que consequentemente diminui a excitação do sistema nervoso central, modulando assim alguns neurotransmissores, como o GAMA (neurotransmissor inibitório) que pode inclusive diminuir a ocorrência de convulsões em pacientes epiléticos.
Já quando realizada com a atividade física de baixa intensidade, o jejum estimula algumas adaptações importantes como: aumento da biogênese mitocondrial (maior número e tamanho das mitocôndrias), melhora e aumento das enzimas oxidativas, diminuição da utilização de glicogênio, adaptações importantes para melhora da via aeróbia, além de maior ativação da enzima AMPK porque durante a realização de exercícios estamos com baixo glicogênio intramuscular, que de forma crônica vai auxiliar na melhora da sensibilidade a insulina, todos esses fatores são importantes para o tratamento do diabetes do tipo 2 e para o processo de emagrecimento.
Porém quando entramos no assunto emagrecimento não há diferenças significativas em relação a treinar ou não em jejum, já que o fator primordial para esse processo será o balanço energético negativo diário.
3. Quais são os riscos relacionados ao exercício em jejum?
Prof. Rogério: Não existe nenhum risco à saúde com a prática da atividade física em jejum, lembrando que devemos diferenciar jejum de inanição.
Enquanto jejum refere-se à abstenção total voluntária ou a ingestão de quantidades mínimas de alimentos e bebidas calóricas por períodos que variam tipicamente de 12 horas a 3 semanas, inanição trata-se de uma insuficiência nutricional crônica, que pode causar sérios riscos à saúde e até óbito.
A maior dúvida das pessoas pode ser em relação ao estado hipoglicêmico, mas é quase impossível chegar a este estado porque nosso corpo tem alguns contrarreguladores como: glucagon, cortisol e adrenalina que vão durante o exercício regular a glicemia sanguínea.
O que pode acontecer é se a atividade física for muito intensa ocorrer uma ativação vaso vagal que pode levar a uma redução da pressão arterial, mas isso devido a intensidade do exercício não pelo estado nutricional do indivíduo.
4. Qualquer tipo de exercício pode ser feito em jejum ou esta recomendação é para algum tipo específico de treinamento?
Prof. Rogério: A maioria dos estudos analisaram a execução da atividade física em jejum aplicada no treinamento de endurace (aeróbio), para melhora das adaptações destas vias (oxidação de gordura, biogênese mitocondrial e ativação de AMPK).
Há poucos estudos sobre o treinamento de força em jejum, até porque as principais adaptações advindas desse método são para adaptações da via aeróbia, mas isso não impede que um indivíduo que tenha dificuldade de se alimentar pela amanhã, pratique o treinamento de força, já que é muito difícil entrar em um estado hipoglicêmico como foi citado na pergunta anterior.
5. A alimentação pós exercício em jejum é importante? Existe alguma recomendação específica?
Prof. Rogério: Tudo vai depender do objetivo do aluno aliado ao planejamento de seu nutricionista, lembrando que só um nutricionista esta apto para prescrição de cardápios alimentares.
6. Muito obrigada pela sua participação! Poderia deixar um recado ou uma dica para os leitores do blog?
Prof. Rogério: Quando pensamos em atividade física ou hábitos alimentares, o fator primordial é a frequência, aderência e prazer. Não assuma intervenções que não são palpáveis para seu estilo de vida.
Crie hábitos que você consiga levar para vida toda, sem loucuras ou restrições exageradas, para que você não tenha frustrações futuras, facilitando assim atingir suas metas e resultados e melhorando sua qualidade de vida ou performance atlética.
Muito obrigada, Professor, pelo carinho em responder tudo pra gente!!!!
Também concordo com o Professor Rogério quando ele diz que cada um deve respeitar os limites do seu corpo. O que a ciência estuda em modelos experimentais nem sempre é aplicável à nossa vida cotidiana. Muito cuidado com o que é divulgado na mídia e mais cuidado ainda com os sensacionalismos!
Não existe sabedoria maior do que aquela do nosso próprio corpo. Portanto, se seu corpo se adapta bem ao exercício em jejum, fique tranquilo. E se ele não se adapta, fique tranquilo também! Faça sempre aquilo que te faz sentir bem e conte com profissionais capacitados para cuidar da sua saúde!
Também concordo com o Professor Rogério quando ele diz que cada um deve respeitar os limites do seu corpo. O que a ciência estuda em modelos experimentais nem sempre é aplicável à nossa vida cotidiana. Muito cuidado com o que é divulgado na mídia e mais cuidado ainda com os sensacionalismos!
Não existe sabedoria maior do que aquela do nosso próprio corpo. Portanto, se seu corpo se adapta bem ao exercício em jejum, fique tranquilo. E se ele não se adapta, fique tranquilo também! Faça sempre aquilo que te faz sentir bem e conte com profissionais capacitados para cuidar da sua saúde!
Espero que tenham gostado da entrevista!
Um forte abraço a todos e uma ótima semana!
14/04/2017 @ 01:09
Gostei das conclusões. Cada pessoa tem seu hábito alumentar. Se consegue praticar atividade física em jejum e sente se bem, continue. Eu, por exemplo, tomo café da manhã reforçado antes de malhar. Depende de cada um, devemos ouvir nosso corpo mesmo. Bjs M