Sobre Cálcio e Vitamina D – Parte III (Alterações do cálcio e OSTEOPOROSE!)
Na terceira parte desta série de posts sobre cálcio e vitamina D, iremos abordar os principais sintomas da falta de cálcio no organismo, consequências da deficiência de cálcio como a Osteoporose; doenças que podem levar ao excesso de cálcio e também da deficiência de Vitamina D.
Antes de começar a leitura, leia este aviso:
ESTE POST TEM COMO OBJETIVO A EDUCAÇÃO EM SAÚDE PARA O PÚBLICO NÃO PROFISSIONAL; POR ISSO, AS INFORMAÇÕES SÃO GERAIS E NÃO TÉCNICAS. JAMAIS FAÇA AUTO DIAGNÓSTICO OU AUTO TRATAMENTO SOMENTE BASEADO NESTAS INFORMAÇÕES. PROCURE UM PROFISSIONAL DE SAÚDE CAPACITADO PARA CUIDAR DE VOCÊ.
Nos primeiros dois posts da série nós abordamos as funções do Cálcio e da Vitamina D no organismo. Estes dois elementos atuam em conjunto e são de suma importância para que nosso corpo consiga realizar funções e se manter em equilíbrio. Além disso, cálcio e vitamina D são responsáveis pela mineralização (formação) dos ossos e dentes e manutenção de sua massa (densidade mineral).
Em situações onde há deficiência de cálcio, seja por baixa ingesta ou por problemas na sua absorção (como ocorre na deficiência na vitamina D), o corpo inicialmente começa a retirar cálcio dos ossos (através da ação do hormônio PTH), na tentativa de restaurar o nível sanguíneo deste mineral. Se esta situação se perpetua, começa a haver uma desmineralização dos ossos, levando à diminuição da massa ósse e consequente osteoporose.
Se esse mecanismo compensatório falha, como ocorre quando as glândulas paratireóides são incapazes de produzir o hormônio PTH, ou quando a deficiência de cálcio é crônica, os níveis sanguíneos começam a cair e os seguintes sintomas podem aparecer:
- Dormências, cãimbras e contrações musculares involuntárias;
- Irritabilidade, ansiedade, depressão e distúrbios de memória;
- Alterações nos batimentos cardíacos podendo chegar a insuficiência cardíaca
- Se muito tempo se passa, além da osteoporose, a falta de cálcio pode aumentar o risco de catarata.
A osteoporose ocorre por vários mecanismos e a deficiência de cálcio é apenas um deles. Na verdade, o mecanismo mais frequente de perda de massa óssea é a deficiência dos hormônios sexuais (como ocorre na menopausa da mulher ou na andropausa dos homens), pois estes hormônios também influenciam na capacidade do tecido ósseo de reter o cálcio.
Acontece uma desmineralização do osso e este começa a perder sua força e resistência, transformando-se num tecido frágil (cheio de “poros”, por isso o nome: osteo = dos ossos; porose = formação de poros). Quanto maior o número de poros (locais onde não há cálcio), maior o risco de fraturas e mais difícil é a consolidação das mesmas.
Existe uma outra condição clínica onde há produção excessiva do hormônio da Paratireoide (PTH), levando a uma retirada excessiva (e inapropriada) de cálcio dos ossos e com isso, excesso de cálcio no sangue. Esta condição é chamada de HIPERPARATIREOIDISMO e ocorre por uma doença da própria glândula.
Por ser uma doença de instalação lenta e muitas vezes com poucos sintomas (pode se apresentar no início apenas com osteoporose), além de também acometer mais frequentemente mulheres na pós menopausa, muitas vezes o diagnóstico não é realizado.
Se a doença não é descoberta, os níveis de cálcio no sangue podem subir levando aos seguintes sintomas:
- Cálculos renais de repetição (pedras nos rins), podendo levar à falência renal;
- Aumento da pressão arterial, calcificação das artérias e doença cardíaca;
- Inapetência, dor de estômago e constipação intestinal;
- Excesso de sede e diurese excessiva
- Quadro de dores articulares semelhantes à GOTA;
- Entre outros…
Como podemos observar, todos os sintomas relacionados tanto à falta quanto ao excesso de cálcio no sangue não são específicos e podem ser confundidos com outras doenças. Muitas vezes, quem acaba fazendo o diagnóstico é o ortopedista (se a pessoa apresenta uma fratura por um trauma relativamente “leve”), o reumatologista (se o caso é de dores ósseas e articulares), o ginecologista (se é uma mulher na pós menopausa), o urologista (se a apresentação for por pedra nos rins)…
Por este motivo, uma correta avaliação dos níveis de cálcio e vitamina D, uma triagem de osteoporose em pessoas com risco (através do exame da Densitometria óssea) e a avaliação da função da paratireóide devem ser feitas por um profissional devidamente qualificado!
Aproveitei o tema polêmico para conversar com o meu colega reumatologista, o Dr. Tiago N. Amaral (CRM-SP 97180). Fiz uma pequena entrevista sobre o tema:
1) Muitos pacientes procuram o reumatologista por dores articulares (“dores nas juntas”), acreditando se tratarem de osteoporose. A osteoporose dói? Qual a diferença entre osteoporose e artrose ou artrite?
Dr. Tiago: A princípio, a osteoporose não gera dor. No entanto, as fraturas, principais complicações do quadro de osteoporose, podem ocasionar desconforto e/ou dor.
A osteoporose, a artrose e a artrite são processos distintos. Enquanto a osteoporose se caracteriza por redução da massa óssea e alteração estrutural óssea, a artrose e a artrite ocasionam danos às articulações.
A osteoartrite, que popularmente é conhecida como artrose, é uma doença com envolvimento global das estruturas articulares, que ocasiona a falência estrutural e funcional da articulação envolvida. O termo artrite, por sua vez, é a denominação dada a qualquer processo inflamatório articular, que pode ser reconhecido pela presença de inchaço, calor, vermelhidão e dor. No cotidiano, o termo artrite é muito utilizado para fazer referência ao quadro de artrite reumatoide, uma doença autoimune que gera inflamação crônica e simultânea de múltiplas articulações corporais.
2) E o risco de fraturas é muito grande? Qual o principal problema de um paciente com osteoporose sofrer uma fratura?
Dr. Tiago: O paciente com osteoporose apresenta um risco elevado de fratura. Dependendo da gravidade da osteoporose, essas fraturas podem ocorrer com traumas leves ou até sem nenhum impacto. Estimar o risco de fratura, no entanto, é complexo, pois são vários os fatores participantes.
No intuito de estabelecer uma estimativa de risco, a Organização Mundial de Saúde desenvolveu uma ferramenta denominada FRAX®, que calcula o risco de fraturas em 10 anos, tanto para fêmur, quanto para outras fraturas maiores associadas à osteoporose (isto é, vértebras, antebraço e ombros). Nessa calculadora de risco, o tabagismo, a ingesta alcoólica, o uso de medicamentos à base de corticóides, o fato de ser portador de artrite reumatoide e densidade óssea reduzida no colo femoral são alguns fatores associados a um maior risco de fratura.
Evitar fraturas é o grande objetivo do tratamento da osteoporose, uma vez que elas são as grandes responsáveis pela dor e limitação que a doença pode gerar. As consequências das fraturas podem ser desde deformidades na coluna, com redução na estatura do paciente ou compressões crônicas de raízes nervosas, até limitação na marcha. Merece especial atenção o impacto da fratura de colo de fêmur na vida do paciente: não só esse tipo de fratura demanda internação e cirurgia para sua correção, como ela está associada a uma mortalidade de aproximadamente 20% no primeiro ano após a fratura.
3) É importante que um paciente com dores nas juntas procure um reumatologista para diferenciar este diagnóstico?
Dr. Tiago: A dor é um sinal de alerta do corpo humano. A existência de dor, portanto, sugere que há algum processo danoso acontecendo na articulação. Muitas vezes o processo é simples e autolimitado, com dor leve e de curta duração. Por outro lado, dores de maior duração e intensidade geralmente indicam doenças. Na presença de dor, o paciente deve procurar o auxílio médico a fim de estabelecer o diagnóstico correto e instituir a terapêutica adequada, com o objetivo de evitar danos às estruturas articulares.
4) Por último, tem alguma dica para os leitores do blog? O que eles podem fazer para evitar a osteoporose e o desgaste das articulações?
Dr. Tiago: Como mencionado, vários são os fatores que participam da origem da osteoporose e das doenças articulares. Apesar de não conseguirmos prevenir completamente o aparecimento desses problemas, existem algumas medidas que prolongam a saúde óssea e articular. Uma ingesta adequada de cálcio, exposição solar rotineira e atividade física regular (inclusive musculação) são importantes para evitar a osteoporose. Por sua vez, a manutenção de um peso adequado e o fortalecimento da musculatura da coxa e do abdome são agentes na prevenção da artrose do joelho e da coluna. No entanto, se já houver dor ou algum problema articular previamente diagnosticado, a indicação da atividade física é individualizada e deve ser realizada por um profissional competente.
Uma vez que os dentes se prendem aos ossos e também dependem de uma correta mineralização para se formarem, conversei de novo com a nossa super dentista Juliana Roversi, que respondeu algumas questões:
1) Pessoas com osteoporose tem alguma restrição em relação ao tratamento odontológico, como por exemplo a extração dentária?
Dra Juliana Roversi: Pessoas com osteoporose devem sempre relatar ao dentista tal disfunção para que o mesmo possa atentar às diferenças de reposta do organismo aos tratamentos dentários. Pacientes com osteoporose tem uma regeneração tecidual mais demorada e para tanto deve ter um acompanhamento pós cirúrgico em extrações e colocações de implantes supervisionada mais de perto pelo profissional.
Em caso de movimentação dentária em ortodontia (aparelhos) ocorre em tempo muito mais elevado e o profissional deve se atentar para empregar forças muito menores nessa movimentação. Semelhante ocorre com os pacientes com osteoporose que fazem tratamento com bifosfonatos. Deve-se atentar nesse caso em ortodontia pois a reabsorção óssea para movimentação dentária é muito mais lenta que o normal.
Portanto não há restrição absoluta para nenhum tratamento, mas cada caso deve ser acompanhado adequadamente tanto pelo dentista como pelo médico do paciente e deve-se atentar para as características e restrições de cada caso!
2) Que orientações devemos dar a estes pacientes do ponto de vista da odontologia?
Dra Juliana Roversi: Devemos orientar o paciente sempre a acompanhar todo o tratamento também com o médico responsável, ou seja, sempre devemos ressaltar o trabalho em equipe multiprofissional.
Este post foi feito com muito carinho e com a ajuda de dois profissionais muito queridos! Ficou um pouco longo, mas espero ter ajudado a esclarecer e aumentar a divulgação deste grupo de condições clínicas!
Caso queiram entrar em contato com o Dr. Tiago, o mesmo disponibilizou o seu e-mail: tnamaral@gmail.com e o telefone do seu consultório (19) 3756-1080.
A nossa super dentista está no instagram como @dra.julianaroversi
Para ler o primeiro post da série, clique aqui.
Para ler o segundo post da série, clique aqui.
Um forte abraço e uma ótima semana a todos!