Vamos tomar chá? (tudo sobre chás: da cozinha à farmácia!)
No Brasil o consumo de chás e infusões não é tão grande quanto o do café. No entanto, a bebida pode trazer diversos benefícios à saúde (dependendo dos ingredientes utilizados), além de aumentar o leque de opções gastronômicas para o seu dia-a-dia.
Vou começar o post contando uma historinha pessoal.
Eu sempre gostei muito de chás e aprendi ao longo do tempo, com nutricionistas, enfermeiras fitoterapeutas e com as pessoas mais velhas, várias formas e misturas de chás e infusões com sabores e propriedades diferentes. Lembrando que aqui no Brasil, “chá” pode ser qualquer coisa que se aqueça com água (chá mate, chá verde, chá de camomila…).
Quando fazíamos grupo de idosos na unidade básica de saúde (UBS), sempre nos deparávamos com perguntas dos nossos pacientes sobre as propriedades farmacológicas dos chás. Os brasileiros (principalmente os mais velhos e os moradores do interior) gostam muito de se utilizar dos chás como medicamento – o que pode ser muito perigoso.
Na verdade, o começo da farmacologia vem das plantas: as plantas contêm princípios ativos capazes de curar diversas doenças e foi a partir do reconhecimento destas propriedades terapêuticas que se deu o surgimento da medicina alopática moderna. Porém, quando se produz um medicamento em laboratório, o princípio ativo é isolado, a dose é fixa e os efeitos colaterais são extensivamente estudados antes que este composto possa ser usado pelas pessoas.
Já no caso dos chás e dos “remédios naturais”, a planta é usada na sua forma íntegra: todos os componentes químicos estão misturados (o princípio ativo não é isolado), a dose pode variar (folhas diferentes tem tamanhos diferentes etc) e a contaminação por fungos e bactérias pode acontecer – esta combinação de fatores pode ser determinante para fazer do remédio um veneno.
“A diferença entre um remédio e um veneno está só na dosagem”.
(Paracelso – Médico e físico do séc. XVI)
Por isso, não se deve usar remédios naturais por conta própria – existe uma ciência por trás da fitoterapia e o uso indiscriminado das plantas medicinais pode trazer consequências graves para a saúde, como inflamações no estômago (gastrite), hepatite aguda (leia mais no site do Instituto para Cuidado do Fígado e em De Souza, 2011); infecções, alergias e até mesmo “superdosagem” com efeitos colaterais graves. Nós sempre tentávamos passar este conceito para os pacientes.
Por outro lado, se não usado com o objetivo de ser um medicamento, os chás podem sim trazer diversos benefícios à saúde.
Em 2014, tive a oportunidade de morar um tempo fora do Brasil para fazer uma parte do meu Doutorado. Lá na Alemanha (e na Europa como um todo) o hábito do chá é muito mais forte do que por aqui (talvez pelo clima frio…). E as pessoas ofereciam chá e falavam de chá como sinônimo de chá preto. Na época, aquilo não fazia sentido pra mim, pois, como boa brasileira, pra mim chá poderia ser “qualquer coisa”… rsrsrs…
No final do ano passado, durante uma viagem à Porto Alegre, passei por uma loja de chás (Tea Shop) que me encantou pois me lembrava muito as lojas de chás da Europa (com vários tipos de folhas, acessórios, chaleiras, etc). Conversando com a atendente da loja, aprendi várias coisas (que conto agora pra vocês) e a primeira delas é que o verdadeiro “CHÁ” é na verdade derivado de uma única planta, a Camelia Sinensis.
Dependendo da torra e do preparo, temos as variações (chá verde, chá preto, chá branco). Porém, quando não tem a Camelia Sinensis na composição, aquela bebida não pode ser chamada de chá: ela é uma INFUSÃO.
As propriedades dos chás são várias, mas podemos destacar:
- Os polifenóis do chá são antioxidantes que protegem o organismo do envelhecimento celular, contribuindo no equilíbrio dos níveis de colesterol e ajudando o corpo a absorver menos gordura.
- Sua quantidade de flúor previne a formação de cáries.
- A teofilina exerce um efeito diurético e também vasodilatador.
- A teína é um “estimulante suave” do sistema nervoso central, despertando a mente.
Um outro ponto interessante que aprendi na loja foi a questão do preparo. Eu sempre tive por hábito ferver a água, depois desligar e colocar as folhas do chá ou infusão, deixar abafado por 5 minutos e depois coar.
O que a menina me ensinou é que o correto não é ferver a água, pois isso pode “queimar” as folhas e mudar o gosto e também suas propriedades. Ela me disse que os gaúchos eram os únicos que sabiam preparar chá (talvez pela sua experiência com o chimarrão): assim que a água começar a “chiar”, deve-se desligar e já preparar a infusão.
Na verdade, cada variedade de chá tem um ponto de aquecimento ideal:
O momento ideal do consumo também varia de acordo com as propriedades dos chás e infusões. Os chás com maior teor de teína devem ser tomados pela manhã ou após o almoço. Já o chá branco e as infusões podem ser tomadas a qualquer hora do dia.
Algumas infusões tem sabidamente efeitos relaxantes e até de indução do sono.
Em relação a qualquer chá ou infusão, o ideal é comprar a erva desidratada; mas caso não seja possível, podem ser usado o chá de saquinho mesmo.
Alguns exemplos de infusões com propriedades calmantes:
a. Infusões relaxantes: camomila, erva cidreira, erva doce, melissa, passiflora (maracujá), hibisco (o chá de hibisco também tem um leve efeito diurético, portanto, deve ser tomado no máximo até 2 horas antes de ir dormir).
Como esses chás são folhas/flores, devem ser feitos em infusão (depois que a água ferver, desligar o fogo, colocar o chá e tampar. Aguardar cerca de 5 minutos, depois coar e beber).
b. Infusões que induzem o sono: o mais potente é o chá de valeriana (3 a 5 raízes para 1 xícara de água) e o chá de alface (uma folha de alface para uma xícara de água). Também tem a raiz de Mulungu. Esses ingredientes devem ser fervidos junto com a água, durante cerca de 5 minutos. Após a fervura, pode ser adicionado alguma outra infusão para dar o sabor (por exemplo, valeriana com camomila, mulungu com cidreira, etc).
Então, a receita ideal para um dia frio pode ser:
– Chá preto no café da manhã;
– Chá verde no meio da manhã;
– Chá azul (oolong) depois do almoço;
– Chá vermelho ou branco ou infusão de hibisco durante à tarde;
– Chá branco ou infusão de camomila, cidreira, etc antes de dormir.
Espero que tenham gostado do post!
Um forte abraço e uma ótima semana a todos!
Anônimo
18/05/2016 @ 16:07
Com tantos detalhes e elogios aos chás, acho que vou experimentar trocar o café ( agora no inverno ) por um chazinho… Muito boas as explicações! Bjs M
Christian
16/04/2020 @ 04:04
Boa noite, primeiro gostaria de agradecer ao post está muito bom e objetivo.
Gostaria de saber o que eh melhor para chá , referente ao sono mesmo , valeriana e mulungu, chá em pó ou chá em raiz? Tem diferença qual faz mais efeito ?
Grato
drajulianagabriel
01/05/2020 @ 10:41
Oi Christian, no caso da valeriana e mulungu eu uso a raiz. Compro em lojas de produtos naturais a granel. Não conheço as versões em pó, mas se forem de origem confiável certamente tem o mesmo efeito. Grande abraço!