Nós também passamos por isso…
Dra. Juliana Gabriel Considerações Livres, Cursos e Treinamentos, Dicas para uma vida saudável, Estresse, Medicina das Emoções, Medicina para todos! ambiente de trabalho saudável, autocuidado, bem-estar emocional, burnout, equilíbrio emocional, equilíbrio trabalho-vida, estratégias de enfrentamento, estresse crônico, exaustão profissional, fadiga profissional, gestão do estresse, prevenção do estresse, produtividade saudável, qualidade de vida, recuperação do burnout, saúde emocional, saúde mental, saúde no trabalho, saúde ocupacional, saúde psicológica, sinais de burnout, síndrome de burnout, suporte psicológico, terapia para burnout 0
Olá a todes e feliz 2025!
Conforme havíamos avisado, em janeiro não vai ter a edição normal do nosso jornalizinho anti-FOMO. Hoje ele dará lugar a um texto honesto e sincero sobre um tema muito sensível para mim.
Resolvi escrever esse texto com o objetivo de abrir o ano com esperança. Mas antes da parte “good vibes”, acho importante trazer uma reflexão (e um desabafo).
Eu queria muito que a faculdade de Medicina (e de outras áreas da saúde) nos dessem, além do diploma, uma cápsula da imunidade que nos permitisse nunca adoecer. Mas infelizmente isso não só não é possível como na verdade, nós profissionais de saúde somos um grande grupo de risco.
E aqui falo não somente das doenças físicas, mas especialmente das questões emocionais.
Quem me acompanha há mais tempo sabe que eu passei por um episódio de burnout. Na verdade, olhando para trás e para a minha história, percebo que esse episódio de 2022 foi o pior deles, mas não foi o primeiro.
Na época, compartilhei com vocês como foi nesse vídeo aqui:
E depois desse vídeo, fui convidada a participar de um podcast chamado NeuroTalks, focado em burnout, onde contei a história completa – o link é esse aqui:
Desde então, tenho tentado me manter longe do burnout. Depois que tive o diagnóstico, passei a estudar e ler mais a respeito e descobri que mesmo após a melhora, quem passa pelo burnout pode ter sintomas residuais e até mesmo uma baixa tolerância ao estresse, aumentando o risco de entrar em esgotamento de novo, como demonstrou o trabalho de Glise, K. e colaboradores, publicado em 2020 (1).
Recentemente, li um livro (2) que fala de overtraining (a síndrome do excesso de treinamento) em atletas, sua relação próxima com o burnout emocional e o conceito de que na verdade, tanto o burnout, o overtraining, a síndrome de fadiga crônica e a síndrome do esgotamento emocional são diferentes nomes (ou manifestações) de uma condição em comum, que é o estresse crônico.
Seja ele desencadeado pelo trabalho (burnout), pela atividade física (overtraining) ou por qualquer outra esfera da vida (esgotamento) ou pela dificuldade em equilibrar essas diferentes esferas… independente da causa, os efeitos disso no corpo e as manifestações na saúde (e performance esportiva ou de trabalho) são semelhantes.
Achei esse conceito tão interessante que resolvi trazer um resumo para vocês: existem 3 grandes estágios do estresse crônico.
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No primeiro, ainda leve, existe um aumento da atividade adrenérgica (do hormônio adrenalina ou do chamado sistema nervoso simpático), causando alterações funcionais no corpo (ainda não há lesões, apenas distúrbios em algumas funções). Essas disfunções são leves e muitas vezes não percebidas inicialmente. Como exemplo temos a sensação de fadiga, uma ligeira queda na performance esportiva, na capacidade de concentração e raciocínio e sintomas leves como alterações do sono, intestino irritável, predisposição a infecções, variações de humor e irritabilidade.
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No segundo estágio, mais moderado, entra em cena o cortisol, uma tentativa do corpo de se proteger desse estresse crônico. Os sintomas começam a ficar mais evidentes e algumas disfunções evoluem para lesões (como as musculares e articulares), distúrbios do sono mais sérios, alterações de humor mais evidentes e piora ainda maior de condições de base (como piora dos níveis de pressão arterial, diabetes, colesterol, dificuldade de perder peso, queda de cabelo, etc).
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No terceiro e mais grave estágio, o sistema adrenérgico começa a entrar em colapso e passa a acontecer uma hiperatividade parassimpática, levando a sintomas como fadiga extrema, oscilações de pressão e de frequência cardíaca, infecções e crises alérgicas frequentes, alterações intestinais, distúrbios de humor mais graves, entre outros.
Nesse último estágio, os sintomas são evidentes e o diagnóstico mais fácil. Mas o corpo já colhe os frutos desse desgaste e há aumento de risco de uma série de doenças. O grande desafio está em identificar o estresse crônico no estágio inicial. E, na minha opinião, isso só é possível através da informação e educação em saúde.
Quando li essa classificação, não pude deixar de pensar que na verdade, meu episódio de 2022 foi na verdade o estágio 3 de um processo que havia começado anos antes. O que eu chamei de “pré-burnouts”, os episódios que tive antes de 2022 foram na verdade a evolução do estágio 1 e 2; como se meu corpo tivesse me dando avisos, mas eu não estava ouvindo.
Desde 2022, achei que tinha saído do burnout, mas na verdade, o que aconteceu foi uma regressão de estágios. E essa leitura me fez perceber que, apesar de estar bem melhor hoje, o estágio 1 ainda ronda por perto. E mais do que isso: quando temos um episódio tão grave como o que eu tive, nossa “régua” fica muito alta e é fácil negligenciar os sintomas iniciais, afinal “já estive tão pior que isso, isso aí não é nada”. Aconteceu comigo e vejo acontecer em muitos dos meus pacientes, nos meus atendimentos.
E é exatamente por isso que resolvi vir aqui escrever esse texto para vocês.
Pois pode ser que alguns de vocês estejam caminhando por esses estágios – o corpo começando a dar sinais. E a gente sempre tem uma explicação: “é o cansaço normal de fim de ano”, “essa fase é assim mesmo”, “logo chegam minhas férias, vai passar”, “criança pequena é assim mesmo, logo elas crescem e melhora” (entre outras). Foi assim comigo durante muitos anos, até que culminei no pior episódio (o de 2022) e é exatamente isso que eu não quero que aconteça com vocês.
Então, ao invés de fazer um texto sobre metas de ano novo e enviar um planner de metas (como já fizemos em anos anteriores), resolvi compartilhar com vocês esse checklist de sintomas. Meu convite é que, ao invés de fazer um “levantamento de metas e conquistas” (como tradicionalmente fazemos na virada do ano), a gente tire um momento para se olhar. Se auto-observar. Olhar para o que nosso corpo vem falando para nós nos últimos meses. E o que podemos fazer para melhorar nossa relação com ele.
Para te ajudar, preparei um pdf com uma lista de sintomas comuns do estresse crônico.
E se quiser se aprofundar mais, tem uma lista de conteúdos no final, incluindo o minicurso “Entendendo o estresse“, que fiz junto com a equipe linda da Tribu Saúde. (clique na imagem para adquirir)
Espero que esse email (ou texto do blog, se você estiver lendo no nosso blog) chegue pra você como um abraço meu. Que você possa, neste novo ano, colocar a si mesmo como prioridade e cuidar ainda mais de você e da sua saúde. Por você e pelos seus. Assim como estamos fazendo também por aqui – eu e essa equipe linda que me ajuda, tanto na Tribu Saúde quanto na Tribu Educação.
Um grande abraço, com muito amor e votos de um feliz ano novo! Ah, esse post foi enviado também para os assinantes da nossa newsletter, onde enviamos conteúdos exclusivos! Caso queira se inscrever, clique no botão abaixo e deixe seus dados.
Dra. Juliana Gabriel
Médica Endocrinologista, CRM-SP 127584, RQE 30.007
Referências:
(1) Glise K, Wiegner L, Jonsdottir IH. Long-term follow-up of residual symptoms in patients treated for stress-related exhaustion. BMC Psychol. 2020 Mar 19;8(1):26. doi: 10.1186/s40359-020-0395-8. PMID: 32188513; PMCID: PMC7081527.
(2) Maffetone P. The big book of endurance training and racing. New York: Skyhorse Publishing; 2010.