Resumo do 5º EBEP (Encontro Brasileiro de Endocrinologia Pediátrica)
Quem me acompanha nas outras redes sociais (Facebook e Instagram) deve ter visto que no último final de semana, fui à São Paulo participar do 5º EBEP (Encontro Brasileiro de Endocrinologia Pediátrica).
Resolvi fazer um resumo por aqui, para aqueles que me acompanham só pelo blog (ou para quem perdeu os posts nas outras redes)! Espero que gostem!
No primeiro dia, uma das palestras mais interessantes foi a da Dra. Simone van de Sande Lee, professora da UFSC, sobre a relação entre a microbiota intestinal e a obesidade – tema que está em alta em congressos de endocrinologia em todo o mundo.
Cada vez mais as evidências apontam para essa relação. Alimentos como adoçantes artificiais e fast food, (ricos em gordura “do mal”) além do uso indiscriminado de antibióticos podem afetar a composição de bactérias do intestino, diminuindo o número ele bactérias protetoras e com isso possibilitando a proliferação de bactérias más – isso leva a uma inflamação crônica no intestino e consequentemente a uma série de repercussões na saúde, uma delas o ganho de peso!
Isso seria tema para um post inteiro mas não resisti de já contar a novidade pra vocês (e também de tietar a Dra Simone, que deu uma palestra maravilhosa!).
O primeiro bloco de palestras do segundo dia falou sobre um tema comum porém pouco conhecido da área de atuação do endocrinologista: as complicações endócrinas do tratamento oncológico, pela Dra. Maria Alice Bordallo da UERJ e o Dr. Sonir Anronini da FMRP-USP.
O câncer infantil felizmente tem hoje uma taxa de sobrevivência de 70-80%. No entanto, estes pacientes sobreviventes tem que lidar com os efeitos colaterais de longo prazo da quimioterapia e radioterapia; cerca de 40% das crianças tratadas de câncer vão apresentar algum problema endócrino, desde hipotireoidismo, baixa estatura, infertilidade e menopausa precoce até o surgimento de uma segunda neoplasia.
Isso significa que essas pessoas devem ser acompanhadas por toda a vida!
Palestras excelentes para começar o dia!
Uma das grandes mensagens desses dois primeiros dias de congresso foi em relação ao cuidado de pacientes com doenças raras.
Se já é difícil conseguir tratamento gratuito de qualidade para doenças frequentes como Diabetes, quando se trata de doenças raras isso fica bastante complicado… Além da dificuldade e burocracia excessivamente demorada na liberação de medicamentos no mercado nacional, o Brasil está passando por grandes dificuldades econômicas..
Mas a saúde deveria ser direito de todos garantido pelo Estado independente se a condição é rara ou comum.
Com isso, estamos vivendo um desabastecimento no país de alguns medicamentos essenciais à vida de pacientes, como é o caso do Florinefe (usados no tratamento da Hiperplasia Adrenal Congênita e na Insuficiência Adrenal). A Sociedade Brasileia de Endocrinologia, de Pediatria e de Triagem Neonatal estão intensamente comprometidas na tentativa de resolução rápida dessas carências.
Nós profissionais apoiamos totalmente as sociedades médicas nesta luta! (esse trecho do texto foi escrito com colaboração da Dra Cristiane Kopacek)
No final do segundo dia eu consegui essa foto super especial! Estou com a Dra. Cristiane Kopacek (UFRS), uma das autoras do consenso brasileiro de Puberdade Precoce e com o Dr. Luiz Cláudio Castro (UnB-DF), um dos maiores especialistas brasileiros em vitamina D e metabolismo ósseo.
Dois grandes exemplos, pessoas fantásticas, envolvidos no cuidado de pacientes com doenças raras e na batalha pelos direitos a uma saúde digna.
Conversamos bastante sobre algumas condições que por serem raras muitas vezes passam desapercebidas e não são diagnosticadas, como é o caso da Hipofosfatasia, uma doença que afeta a formação dos ossos levando a osteoporose em crianças e adolescentes, perdas dentárias, tonturas, além de outros sintomas. Quando se conhece a doença, o diagnóstico é precoce e o tratamento é possível, mudando completamente a vida é o prognóstico das pessoas acometidas.
Obrigada pela excelente apresentação e pelo bate papo, doutores!
Na manhã do terceiro dia de congresso dois temas muito importantes foram abordados:
– A experiência mais atual no uso de hormônio de crescimento (GH) em crianças com baixa estatura sem causa aparente (idiopática) e em crianças nascidas com baixo peso (PIG), que tem risco aumentado de apresentarem baixa estatura durante seu desenvolvimento. Quanto mais o tempo passa mais a experiência neste tratamento está aumentando, mostrando quais pacientes vão realmente ter benefício com o tratamento e quais não terão. A avaliação cuidadosa de cada caso é importante nesta diferenciação.
– O cuidado de crianças e adolescentes com disforia de gênero (transsexualidade) tem recebido mais atenção em todo o mundo e hoje temos um centro de pesquisa no Brasil estudando as melhores opções de cuidado e tratamento hormonal, os riscos e as complicações do tratamento e o impacto na qualidade de vida. Felizmente o mundo está cada vez mais receptivo e acolhedor e preocupado em estudar e aprimorar as opções de tratamento para estes indivíduos.
Encerramos o congresso com a tradicional foto dos atuais e ex: alunos, residentes e pós graduandos da Unicamp!
Valeu demais o aprendizado, atualização e encontrar pessoas tão queridas!
Fim do ano tem mais!
Anônimo
04/06/2016 @ 22:00
Muito bons os temas abordados no Congresso que vc "traduziu" para leigos como eu. Vou continuar acompanhando e ficando informada. Bjs M