“Por que você NÃO deve usar T3 no Tratamento do Hipotireoidismo”
Dra. Juliana Gabriel Cursos e Treinamentos, Endocrinologia da Mulher, Endocrinologia do Homem, Endocrinologia Para Todos, Medicamentos (Remédios) endocrino, endocrinologia, Endocrinologia Feminina, hipotireoidismo, t3, tireoide, tratamentos 0
Ultimamente, muito tem sido discutido sobre a eficácia e segurança da adição do hormônio T3 à terapia padrão de levotiroxina (T4) no tratamento do hipotireoidismo.
Enquanto alguns profissionais da saúde chamados de “integrativos” têm promovido essa prática, é crucial entender o que a ciência e as diretrizes oficiais realmente dizem sobre esse assunto.
O que é a Terapia com T3?
A terapia combinada de liotironina (T3) e levotiroxina (T4) é uma abordagem que alguns médicos utilizam na esperança de otimizar o tratamento do hipotireoidismo.
A ideia por trás disso seria que adicionando T3, o paciente poderia alcançar uma melhor normalização dos níveis hormonais, principalmente se eles continuam sentindo sintomas de hipotireoidismo apesar de terem o TSH (hormônio estimulante da tireoide) dentro da faixa normal.
Por Que a Prática Ainda é Controversa?
Apesar de algumas pesquisas indicarem que a adição de T3 pode beneficiar certos pacientes, a Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM) e outras organizações médicas importantes ainda não recomendam essa prática como padrão. Isso se deve a várias razões:
- Estudos Insuficientes: Os estudos realizados até agora não são suficientes para confirmar os benefícios de adicionar T3 de maneira generalizada.
- Riscos de Manipulação: No Brasil, a manipulação de hormônios tireoidianos não é recomendada devido aos riscos associados e à falta de formulações comerciais apropriadas. A melhor forma farmacêutica pra a reposição de T3 (liberação lenta) ainda não é disponível comercialmente.
- Monitoramento Complexo: Ajustar e monitorar os níveis de T3 pode ser difícil, pois este hormônio tem uma grande variação ao longo do dia e pode ser afetado por muitos fatores. Ou seja, um nível baixo de T3 no exame laboratorial não necessariamente representa falta de T3 no organismo.
- Outras causas para os sintomas residuais: muitos sintomas associados ao hipotireoidismo não são exclusivos desta condição e podem estar presente em outras situações clínicas, como por exemplo, deficiência de micronutrientes (como ferro, B12 e vitamina D), doenças crônicas não controladas (como por exemplo diabetes e doenças autoimunes), anemia, entre outros. Se existe outra justificativa para a presença de sintomas residuais em pessoas com TSH normal, o uso do T3 nesses casos pode ser maléfico ao invés de benéfico.
Quais os riscos do uso de T3?
Incluir T3 na terapia do hipotireoidismo apresenta riscos específicos:
- Risco de Superdosagem: T3 é muito mais potente e de ação mais rápida do que T4, e isso pode levar a uma superdosagem acidental, causando desde sintomas leves como ansiedade e insônia até sintomas mais graves como palpitações, perda de peso rápida e até mesmo arritmia cardíaca.
- Instabilidade dos Níveis Hormonais: Devido à sua rápida atuação e curta duração, o T3 pode causar flutuações significativas nos níveis hormonais, tornando difícil manter um estado metabólico estável.
- Impactos Cardiovasculares: Altos níveis de T3 podem levar a um aumento do risco cardiovascular, especialmente em pacientes idosos ou aqueles com condições cardíacas pré-existentes.
Quando o Uso de T3 Pode Ser Considerado?
Em alguns casos raros, onde o paciente não responde adequadamente à levotiroxina sozinha e continua apresentando sintomas significativos, alguns especialistas podem considerar a terapia combinada sob supervisão rigorosa e após avaliar todos os possíveis riscos e benefícios.
Conclusão:
É essencial que os pacientes não iniciem ou alterem seu tratamento hormonal sem a orientação de um endocrinologista qualificado. A terapia de substituição hormonal é complexa e personalizada, e o uso de T3, sem supervisão médica adequada, pode trazer mais riscos do que benefícios.
O que fazer se você tem dúvidas sobre seu tratamento?
Se você está sendo tratado para hipotireoidismo e tem dúvidas sobre seu tratamento, ou se ouviu algo sobre a terapia com T3, o melhor passo é conversar com seu médico endocrinologista. Ele poderá avaliar seu caso com base nos mais recentes conhecimentos científicos e nas diretrizes clínicas.
Em Resumo: Por que não se deve usar rotineiramente T3 para tratar o hipotireoidismo:
- Falta de evidências robustas que justifiquem seu uso generalizado.
- Riscos associados à manipulação e dosagem inadequada.
- Complexidade no monitoramento dos níveis hormonais.
Por: Dra. Juliana Gabriel, médica endocrinologista. CRM-SP 127584 RQE 30.007.
Referência:
- Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia. Terapia Combinada Liotironina + Levotiroxina [Internet]. São Paulo: SBEM; 2021 [citado 2024 May 10]. Disponível em:
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